sexta-feira, 26 de março de 2010

Apresentação

Somos o grupo II da Turma D do 12.º ano da Escola Secundária de D. Dinis – Santo Tirso e, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, sob a orientação do nosso professor de História, Mário Vinhais, estamos a trabalhar o tema do “Centenário da Implantação da República”.
Elegemos abordar esta temática pois parece-nos que, sendo esta efeméride um acontecimento tão extraordinário, ninguém se deve abster da sua comemoração, muito menos a comunidade escolar. Deste modo, com o desenvolver do nosso projecto, pretendemos associar-nos à comunidade civil nas comemorações deste centenário bem como fazer com que a nossa escola não fique alheia a este acontecimento.
Ao longo do presente blogue, vamos abordar de uma forma sucinta, a questão do “Ultimato Inglês” e a Ditadura de João Franco: tentaremos explicar de que forma é que estas duas realidades da mesma História contribuíram para a queda da Monarquia e consequente Implantação da República em 5 de Outubro de 1910.
Apresentaremos, também, uma biografia de João Franco, bem como uma pequena referência ao seu desempenho como governante. Posteriormente, iremos apresentar os resultados do nosso trabalho de campo, elaborado através de questionários por inquérito, que aplicamos às turmas de Humanidades de 10.º, 11.º e 12.º anos da nossa escola, bem como, uma referência à forma como a Implantação da República foi noticiada e vivida em Santo Tirso.

Para além disto, apresentaremos, ainda:
- Pequenas biografias dos Presidentes da República desde 1910 até aos nossos dias;
- Slides com imagens referentes ao Hino Nacional e à Bandeira;
- Artigos de jornais, entre outros.

Ode à República

Lá no fundo a passo largo,
Vinha ela seguida da vontade.
Contestando o azedo e amargo
Castrador da liberdade.

Do medo do Ultimato,
Tal vergonha jamais se viu,
Passando pela morte do rei insensato,
Até João Franco contribuiu.

Chegando já a meio da avenida,
Abanava a bandeira com ordem tal,
Que com a outra mão desprovida,
Mandava o Povo mudar Portugal.

E num dia que foram anos,
A República chegou atraente,
Conquistando doentes e insanos
E guiando Portugal em frente.


Rui Ribeiro, Grupo II

quinta-feira, 25 de março de 2010

Acróstico da República

Recorda-se o futuro que virá

E o passado numa imagem.

Por entre a multidão caberá

Uma revolução, uma viragem.

Buzinas e vozes anunciam:

Lá vem a República!”

Imergindo do Povo nasceu do rubro,

Concebida por sua súplica,

A 5 de Outubro.

Rui Ribeiro, Grupo II

Prefácio

É extremamente oportuna, nas vésperas da comemoração do centenário da República, a iniciativa deste grupo de alunos da Escola Secundária de D. Dinis – Santo Tirso. Conhecer e recordar a História de Portugal é um dever cívico, além de um exemplar acto de cultura.
Estudar a influência do «Ultimatum» inglês e da governação de João Franco no processo que levou à implantação da República representa, sem dúvida, uma tarefa do maior interesse. Sobre a chamada Ditadura de João Franco têm sido feitas novas leituras e interpretações, pelo que este é um período que merece ser revisitado e redescoberto. Por sua vez, a marca da memória do «Ultimatum» na génese do espírito republicano, que culminou na revolta de 31 de Janeiro, é de todos bem conhecida, o que não dispensa que a ela regressemos.
Ainda que não conheça o conteúdo do trabalho que vai ser apresentado, estou certo que ele será, desde logo para os seus autores, um momento enriquecedor do conhecimento desse turbulento mas fascinante período da História de Portugal. Trata-se, inquestionavelmente, de um bom exemplo de dedicação à História e de formação de cidadania.

António de Araújo
(Consultor do Presidente da República para os assuntos Políticos)

quarta-feira, 17 de março de 2010

O Ultimato Inglês

Em 1889, morreu o rei D. Luís, tendo-lhe sucedido o filho D. Carlos.


Fig. 1 – D. Luís I, Rei de Portugal

A morte deste monarca, constituiu uma viragem decisiva na vida política do País e, consequentemente, da vida da Monarquia. Esta mudança de paradigma, não foi pacífica tendo o seu epílogo no regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.
Este período de mudança, foi marcado por acontecimentos de índole interna e externa de extrema importância.
No que diz respeito aos acontecimentos de índole externa, há que acentuar o choque entre as políticas colonialistas inglesas e as pretensões portuguesas em África, que foram digeridas de uma forma pouco inteligente pelos sucessivos monarcas, que não souberam dar à acção corajosa dos exploradores portugueses naquele continente, o suporte jurídico e diplomático necessário para viabilizar os seus achados. Quando D. Carlos subiu ao trono, estava já latente o conflito anglo-português que atingiu o seu ponto culminante no Ultimato Inglês de 11 de Janeiro de 189.
Na Conferência de Berlim, 1884 – 1885, alteraram-se as regras de ocupação e posse dos territórios coloniais: para a ocupação dos referidos territórios, passou a vigorar o princípio da ocupação efectiva dos mesmos, em detrimento dos direitos históricos.


Fig. 2 - Conferência de Berlim

Posteriormente à Conferência de Berlim, evidenciou-se a competição entre as grandes potências europeias para a partilha de África, onde os portugueses estavam estabelecidos desde o século XV. Ora, os ingleses que, desde meados do século XIX, forma lançando os suportes de um grande império africano, instalaram-se na África do Sul e no Egipto e tentaram ligar ambos os territórios construindo, para tal, uma linha férrea que ligasse a cidade do Cairo, no Egipto, ao Cabo, demonstrando, assim, o seu poderio.
Este projecto, chocava, entre outros, com a presença de Portugal nos territórios entre Angola e Moçambique, que constituíam vastas possessões e que eram separadas por territórios pouco conhecidos e inexplorados, onde a influência dos povos e nações europeus logravam de grande margem para exercer o seu domínio e fazer valer os seus interesses nacionais.
Para fazer prevalecer os nossos interesses, Portugal elaborou o Mapa cor-de-rosa, que ficou para sempre associado a uma das maiores crises que o país vivenciou no decurso da sua História. Este Mapa cor-de-rosa, consistia num projecto de formar um domínio que unisse territorialmente Angola a Moçambique.
Os governos monárquicos adoptaram-no e basearam nele a política colonial que teve por fim um inútil vexame nacional. Portugal, reivindicou a posse efectiva dos territórios que faziam a ligação entre Angola e Moçambique, para fazer, no seu conjunto, um império luso. Contudo, esta pretensão não foi levada a bom porto, em boa parte, devido à falta de preparação e completo desconhecimento das condições necessárias em que era preciso conduzir este projecto bem como das realidades internacionais, de modo a evitar surpresas desagradáveis, como acabou por acontecer.


Fig. 3 - Mapa cor-de-rosa

Desde finais do século XIX que o governo português conhecia as pretensões Britânicas, bem como estava ciente da necessidade de estabelecer um diálogo diplomático com a Grã-Bretanha a fim de harmonizar os seus interesses com os nossos. Contudo, havia um obstáculo sério à realização desse objectivo: em certos meios políticos europeus da época, era bem visível a tendência para “jogar a carta alemã”(1) contra a Grã-Bretanha, numa altura em que a importância do material bélico alemão se fazia sentir no contexto internacional. Esta tendência, fez com que os responsáveis políticos britânicos olhassem para Portugal como que de uma forma desconfiada. Foi este contexto político-social que esteve na origem do Ultimato de 1890.
Em 11 de Janeiro de 1890, o governo da Grã-Bretanha enviou, ao governo português, um ultimato redigido nos seguintes termos:
“O governo de S. M. britânica deseja e insiste vivamente no seguinte: que se enviem ao governador de Moçambique instruções telegráficas imediatas, para que todas e quaisquer forças militares portuguesas, actualmente no Chire e nos países dos macololos e machonas, se retirem. O governador de S. M. entende que, sem isto, as seguranças dadas pelo governo português são ilusórias. Mr. Petre ver-se-á obrigado, à vista das suas instruções, a deixar imediatamente Lisboa com todos os membros da legação se uma resposta satisfatória à precedente intimidação não por ele recebida esta tarde, e o navio «Enchantress» está em Vigo esperando as suas ordens.
Legação britânica, 11 de Janeiro de 1890”(2).
Na noite do dia 11 de Janeiro de 1890, foi marcada uma reunião do Conselho de Estado, em cuja acta, se reflecte o desassossego latente nos discursos aí realizados bem como a certeza de que Portugal não estava preparado para enfrentar a situação.
Foi sob ameaça de tomada pela força do território que separa Angola de Moçambique e da invasão do nosso país, que D. Carlos se viu coagido a ceder às exigências britânicas, o que despoletou vários protestos por parte da população, com subsequente aproveitamento dos adeptos do regime republicano.


Fig. 4 - O Ultimato, segundo caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro

À medida que a notícia se ia tornando pública, a excitação popular aumentava. Nos cafés da Baixa, grupos indignados com a afronta, bradavam a sua cólera. Foi de um deles que partiu a primeira manifestação popular de protesto contra a afronta inglesa e a inacção dos dirigentes monárquicos. Nestas manifestações, sucedeu que o povo como que descobriu o alvo para a sua ira impotente, para a sua angústia e patriotismo ofendido: desde este momento, a Monarquia era vista pelo povo como símbolo da derrocada que, para além de arrastar o país para o abismo da corrupção, o atingiu em cheio no seu orgulho, na sua honra e dignidade.
Para além destas manifestações populares, também na literatura se fez sentir este descontentamento: Guerra Junqueiro, escreveu três poemas que lhe deram notoriedade literária: “A marcha do "Ódio”, o “Finis Patriae” e a “Pátria”, que ficaram na nossa literatura, como a maior expressão de descontentamento do Povo e da separação irreversível que se gerou entre a Nação e a Monarquia.
“Guerra Junqueiro, filiou-se, anos mais tarde, no Partido Republicano, bem como outros monárquicos que deixaram os agrupamentos em que estavam, desiludidos”(3) . Por aqui se vê que as evidentes demonstrações da ansiedade popular, que se faziam sentir um pouco por todo o país, encontrassem eco nos mais altos e eloquentes personagens da época.
Foram nestas jornadas tumultuosas de Janeiro de 1890 que a incompatibilidade entre o Povo e o Rei se tornou definitiva e incansável.


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(1) "História da República Portuguesa". Cota 94(469)His. Editora Século.Pág.38
(2) "História da República Portuguesa". Cota 94(469)His. Editora Século.Pág.39
(3) "História da República Portuguesa". Cota 94(469)His. Editora Século.Pág.44

João Franco – Biografia



Fig. 5 – João Franco

João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco, nasceu em Alcaide, freguesia do concelho do Fundão, a 14 de Fevereiro de 1855 e morreu em Lisboa, no ano de 1929. Formou-se em 1875 na faculdade de Direito de Coimbra e abraçou a carreira administrativa. Neste domínio, desempenhou as seguintes funções: Delegado do Procurador Régio nas comarcas de Sátão, Baião, Alcobaça, e Lisboa desde Janeiro de 1877 a Janeiro de 1885; chefe de serviço na Administração Geral das Alfândegas desde Outubro de 1885 a Novembro de 1886; Administrador Geral das Alfândegas (interino) desde Fevereiro de 1886 até Dezembro do mesmo ano; auditor do Tribunal do Contencioso Fiscal Aduaneiro, lugar para que foi despachado em 1886 e cujo exercício muito apreciou.
Eleito, pela primeira vez, deputado, pelo círculo de Guimarães, em 1884, João Franco dedicou-se desde então à política, militando no Partido Regenerador e logo se tornou conhecido pela pertinência das suas críticas ao governo progressista. Sobraçou as pastas da Fazenda (1890), das Obras Públicas (1891 – 1892) e do reino (1893 – 1897), tendo procurado sanear a administração dos bens públicos e fortalecer a autoridade do Rei.
Tendo abandonado o Partido Regenerador Liberal, formou em 1903 o Centro regenerador Liberal.
Chefe de Governo desde 19 de Maio de 1906, pôs em prática o “franquismo”, que propunha uma governação mais firme e ao serviço de uma política de descentralização administrativa e de reformas em todos os domínios, tendo governado sem as cortes. Era a última oportunidade de salvação para a Monarquia.
A falta de visão das forças monárquicas oposicionistas, fê-las aliar-se à oposição republicana, que se lançou numa campanha de calúnias e insultos contra o Rei e o Presidente do Conselho, criando um ambiente propício à revolução e ao crime.
Após o assassinato de D. Carlos, em 1 de Fevereiro de 1908, abandonou a vida política.


Fig. 6 – O Regicídio, segundo ilustração do “Le Petit Journal” de 1908

A Ditadura de João Franco

A feroz ditadura de João Franco é, indubitavelmente, uma das causas mais significativas para a queda da Monarquia e consequente Implantação da república em 5 de Outubro de 1910.
João Franco governava com base parlamentar uma vez que era apoiado pelos progressistas. Á coligação entre o partido de João Franco e o de José Luciano de Castilho, dava-se o nome de “Coligação Liberal”. Apesar disso, esta ligação era frágil e, logo que se completaram três meses de duração obrigatória da sessão parlamentar, a câmara dos deputados foi dissolvida (10 de Maio de 1907) sendo marcadas novas eleições para o dia 5 de Abril de 1908. Com isto, o Governo pretendia, sem causar dano à normalidade constitucional, paralisar a acção do Parlamento.
A esse período,dá-se o nome de Ditadura Franquista. O Partido Progressista não tinha dado o seu acordo à dissolução do Parlamento e, como tal, logo no dia seguinte, José Luciano de Castilho, declarou extinta a “Coligação Liberal” e passou a combater o governo de João Franco. Todas as forças políticas tomaram então posição contra o Ditador.
João Franco, propunha-se dar um carácter administrativo à sua ditadura, aplicando o seu afamado programa reformista com o qual esperava recolher a simpatia das diversas classes. Esperava, assim, que a eficácia do Governo fizesse esquecer a anticonstitucionalidade da situação. Deste modo, regulamentou a cobrança das pequenas dívidas e as condições de despejo dos inquilinos; atendeu a algumas das mais fortes reivindicações dos trabalhadores, nomeadamente através da instituição do descanso semanal obrigatório e da criação de uma Caixa de Aposentações; teve, também, a preocupação de beneficiar as forças armadas, aumentando-lhes o salário e facilitando o acesso à reforma dos militares.
Apesar da crescente contestação dos adversários, o ditador parecia dominar por completo a situação, tanto que resolveu tornar pública a sua decisão de proceder à regulamentarização dos adiantamentos à Casa Real! Assim, num banquete realizado no Porto, aproveitou para tornar públicas as medidas escolhidas para seleccionar o caso, facto que motivou tumultuosas manifestações de protesto aquando da sua chegada a Lisboa, que tiveram de ser reprimidas com violência.
Com isto, inaugurou-se um período de instabilidade social e, a partir de então, na acção do Governo, as questões administrativas foram definitivamente subalternizadas pelos problemas de ordem pública.
Foram adoptadas severas medidas de excepção que permitiram ao Juízo de Instrução Criminal, suster pela repressão as actividades dos adversários da ditadura, cortando-lhes a liberdade individual e suspendendo os jornais que lhes eram afectos.
De aparente face liberal, o franquismo progrediu para a sua fase “ditatorial”, situação vulgar do quotidiano monárquico, mas intolerável em 1907, numa altura em que o país se encontrava já demasiado “republicanizado” para anuir com semelhante situação.
As oposições aproveitaram tão favorável situação para realizar grandes campanhas contra a ditadura e não só: rapidamente os deputados republicanos se aperceberam de que o adversário a derrubar era o próprio Rei.


Fig. 7 – D. Carlos I, Rei de Portugal

Em consequência de tal situação, o Governo convenceu o Rei a assinar o decreto que punia com degredo para as colónias, os crimes políticos graves, instrumento legal que permitia afastar do Reino os principais adversários políticos da ditadura.
Com este endurecimento, a ditadura ditou o seu próprio fim e, também, o começo do fim de João Franco que, após o Regicídio, foi afastado do poder e forçado ao exílio temporário.
Restava a solução republicana: e assim se chega ao 5 de Outubro de 1910.


Fig. 8- José Relvas proclama a República das janelas da Câmara Municipal de Lisboa

A Implantação da República vivida em Santo Tirso

Decidimos, agora, transcrever a narração feita no jornal da época “Semana Thyrsense de 9 de Outubro de 1910 de como decorreu a sessão solene de Proclamação da República em Santo Tirso.
"Na última sexta-feira era recebida a comunicação official do governo civil na Câmara Municipal d´este concelho, ordenando que fosse feita a devida proclamação da República e hasteada a bandeira nacional que passou a ser provisoriamente vermelha e verde.
De harmonia com o expresso n´esse telegrama, pela volta do meio dia, realizou-se em sessão extraordinária da Câmara Municipal a proclamação solemne do novo regímen, à qual assistiu numerosa concorrência de pessoas d´esta villa, uma parte composta de indivíduos, cujas convicções politicas de há muito eram conhecidas como republicanas,e outra parte formada por cidadãos que adheriram ao novo regímen logo após a sua implantação n´esta nacionalidade.
O snr. Presidente da Câmara, tendo, previamente ordenado que fosse retirado do seu antigo logar o retrato do monarcha proscrito, mandou abrir a sala das sessões que, immediatamente, se encheu de pessoas de todas as condições sociaes.
As palavras proferidas por sua ex.ª communicando «que estava implantada a República em Portugal», foram acolhidas no meio do mais delirante enthusiasmo, levantando-se calorosos vivas à Pátris, ao exército, à cidade de Lisboa e à República Portugueza!
Fallou em seguida o sr. Dr. Eduardo da Costa Macedo, distincto advogado n´esta villa, que fez uma allocução brilhantíssima, inspirada na consummação do ideal republicano, facto que o enchia de enthusiasmo e alegria, comovendo-o quazi até às lágrimas. Via-se na forma como o illustre orador se apresentara a fallar, fazendo a apologia da republica que em seu entender, é a encarnação sublime do progresso, da ordem, da moralidade, do trabalho e da justiça, quando a sinceridade e patriotismo estavam a dictar as suas palavras. O illustre orador espraia-se, em seguida, em considerações que são mais uma confirmação inequívoca dos excepcionaes predicados de intellegencia que possue, sendo interrompido pela assistência que o applaudia frequentemente em frémitos do mais vibrante enthusiasmo. Termina saudando, nas pessoas presentes, a proclamação da Repulica Portugueza!
Seguidamente a assistência irrompeu numa manifestação de regosijo enthusiastico, levantando vivas a sua ex.ª, orador, à Republica, à Pátria, etc.
Após a cerimonia da proclamação verificada nas sessõe camarárias, a massa de gente que ali se aglomerava, foi assistir ao hastear da bandeira republicana, que desde aquella hora, tremula flamejante no edifício dos Paços d´este concelho. N´essa occassiao uma philarmonica toca a «Portugueza» e a multidão levanta calorosos e respectivos vivas à Republica…
A philarmonica acompanhada de numerosas pessoas percorreu seguidamente as ruas da vrilla em signal de regisijo, sendo n´essa occassiao içada a bandeira republicana no edifício do telegrpho-postal.
O administrador do concelho, snr. António Fonseca,telegraphou n´estes termos ao ex.º Governador Civil d´este distrito: ver apontamentos.
A manifestação ocorreu sempre ordeira e enthusiasticamente.
Eis, em resumidos traços, o que se passou hontem n´esta villa, por occasiao da cerimonia da proclamação da republicade que esta destinada, senão for atriçoado o que de mais nobre e gigantesco existe na sua nação, o proporcionar-nos a nos portuguezes, horas de maior ventura e felicidade, redimindo a pátria d´um passado cheio de erros e de crimes a que foi votada pela inépcia, senão por uma absoluta falta de escrúpulos dos seus principaes servidores".(4)


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(4) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº 12 - Ano 1910

A Implantação da República noticiada em Santo Tirso

Com o intuito de enriquecer o nosso trabalho, decidimos apresentar um pequeno capítulo que mostre a forma como a Implantação da República foi noticiada pelos meios de comunicação da época. Assim, consultamos os arquivos do jornal “Semana Thyrsense”, da Biblioteca Municipal, de forma a tentarmos perceber o impacto deste acontecimento na sociedade tirsense da época.
Segundo a edição de 9 de Outubro de 1910 do “Semana Thyrsense” podemos perceber que a ordem pública, felizmente, não foi “perturbada em qualquer ponto do país, depois da reconhecida e heróica lucta travada em Lisboa”(5) . Nesta mesma edição, é já relatada a necessidade de aprovar uma nova Constituição, o que acontecerá em 1911, Constituição esta onde deveriam estar consagrados princípios tais como “a representação proporcional, os círculos plurinominaes, a reunião das câmaras por direito próprio e tantos outros”(6) .
Outra preocupação narrada é o atraso da instrução referindo a falta de escolas primárias e, também, o facto de o ensino nelas ministradas não ser capaz de formar cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres cívicos, referindo ainda que “ministrar ao povo uma falsa instrução é peor do que não lhe dar instrução alguma”(7).
Uma outra preocupação relatada no “Semana Thyrsense” relaciona-se com as questões financeiras, exortando o autor do artigo a que se encontram soluções rápidas e que antes de mais haja “um estudo consciencioso, uma iniciativa decidida e uma energia persistente”(8) para fazer face aos problemas económicos do país.
O artigo acaba com a seguinte citação “é, sem duvida, extensa a obra que se impõe à actividade de todos quantos tem por dever velar pelo futuro d´este paiz. A realização d´essa obra requer, sobretudo, um acrisolado patriotismo”(9) .

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(5) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº12- Ano 1910
(6) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº12- Ano 1910
(7) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº12- Ano 1910
(8) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº12- Ano 1910
(9) "Semana Thyrsense". Cota ST 070 nº12- Ano 1910

Bibliografia

• CARNEIRO, Roberto - “Memória de Portugal – O milénio Português”. Editora Círculo de Leitores. Pág. 491

• MEDINA, João - “História Contemporânea de Portugal”. Editora Multilar. Cota HCP – 94 (469), volume 2.

• OLIVEIRA, Leonel - “Quem é Quem – Portugueses célebres”. Editora Círculo de Leitores. Pág. 233

• SARAIVA, José Hermano – “A Primeira República – do 5 de Outubro à Crise Partidária”. Editora Quidnovi. Cota HIS 94 (469), volume 8.

• “História da República Portuguesa”. Editorial Século. Cota 94 (469) His Pgs. 27 a 46.

• “Semana Thyrsense”. Cota ST 070 n.º12 – Ano de 1910.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Análise dos resultados obtidos dos inquéritos feitos às turmas de humanidades

De forma a testarmos os conhecimentos dos alunos da área Científico-Humanística de Línguas e Humanidades da nossa escola sobre esta temática da República, decidimos aplicar um questionário por inquérito composto por perguntas de resposta de escolha múltipla, uma pergunta de resposta fechada e uma outra de âmbito mais aberto. Na recolha de dados, optamos pelo questionário por inquérito pois parece-nos ser a melhor técnica para a obtenção de dados de uma população homogénea como é o caso dos alunos.
O inquérito foi feito a uma turma de 10.º ano, duas de 11.º e duas de 12.º, sendo todos de carácter anónimo. Ao todo, responderam a este questionário 97 alunos com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos. Escolhemos estas turmas pois, sendo da área das Humanidades, são aqueles que estão mais familiarizados com a temática.

Quando questionados sobre a data em que se deu o Regicídio, 1% (1 aluno) não respondeu, 14% (14 alunos) respondeu Março de 1911, 21% (20 alunos) respondeu Dezembro de 1911 e 64% (62 alunos) respondeu Fevereiro de 1908, a resposta correcta.


Interrogados sobre qual o Rei assassinado nesse Regicídio, 1% (1 aluno) não respondeu, 7% (7 alunos) respondeu D. Luís I, 34% (33 alunos) respondeu D. Manuel II, e 58% (56 alunos) respondeu D. Carlos I, a resposta correcta.
A pergunta chave deste questionário é a que a seguir se apresenta:


A esta pergunta, houve vários alunos a dar uma resposta diferente, fazendo com que verifique uma grande dispersão de cenários de resposta: 1 aluno respondeu 1 Dezembro 1646, 1 aluno respondeu 4 Dezembro 1640, 1 aluno respondeu 11 Dezembro 1645, 1 aluno respondeu 5 Outubro 1912, 1 aluno respondeu 15 Outubro 1910, 1 aluno Dezembro, 1 aluno 25 Abril, 1 aluno 1640, 2 alunos 1925, 2 alunos 25 Outubro, 2 alunos não responderam e 83 alunos responderam 5 Outubro 1910, a resposta correcta.


Na quarta questão, os alunos foram questionados sobre o ano em que foi aprovada a Constituição da I República: 1% (1 aluno) não respondeu, 1% (1 aluno) respondeu 1820, 44% (43 alunos) respondeu 1911, a resposta correcta e, finalmente, 54% (52 alunos) responderam 1910.


Na quinta questão, os alunos foram interrogados sobre qual o primeiro presidente não eleito da I República: 12% (12 alunos) respondeu Oliveira Salazar, 27% (26 alunos) respondeu Ramalho Eanes e, finalmente, 61% (59 alunos) respondeu Teófilo Braga, a resposta correcta.


Interrogados, na sexta questão, sobre qual o primeiro presidente eleito após a Implantação da República, 1% (1 aluno) não respondeu, 20% (20 alunos) respondeu Marcelo Caetano, 22% (21 alunos) respondeu Teófilo Braga e, finalmente, 57% (55 alunos) respondeu Manuel de Arriaga, a resposta correcta.


Na sétima questão, quando questionados sobre quantos governos exerceram funções executivas entre a Implantação da República e 1926, 1% (1 aluno) não respondeu, 26% (25 alunos) respondeu 20, 29% (28 alunos) respondeu 45, a resposta correcta e, finalmente 44% (43 alunos) respondeu 4.


Na penúltima questão, os alunos pronunciaram-se sobre os seus conhecimentos em relação aos 8 presidentes eleitos durante esse período: 43% (42 alunos) respondeu sim, enquanto 57% (55 alunos) respondeu não.
Na última questão de resposta aberta os alunos foram convidados a pronunciarem-se sobre o que achavam que mudou a partir da Implantação da República em relação ao tempo da Monarquia.
A grande maioria dos alunos respondeu que, essencialmente, após a Implantação da República, passou a haver mais liberdade e mais direitos, nomeadamente o de escolher livremente os governantes e mais igualdade.
Ainda assim, decidimos transcrever algumas respostas que achamos curiosas:

•"Não sei";

•"Orabem, o poder ficou dividido e o povo pôde votar não dependeno da sucessão hereditária. DAH!"

•"Dah, devias de saber";

•"Não faço a mínima";

•"Está tudo muito melhor de certeza porém não tenho muito essa ideia porque não vivi no tempo anterior";

•"Liberté, Egalité, Fraternité".


Da análise dos inquéritos concluímos:

•A maioria dos alunos sabem, ou pelo menos responderam correctamente em que data se deu o Regicídio, bem como qual o Rei assassinado nesse mesmo Regicídio;

•Registamos, com algum espanto, a disperção de respostas no que respeita à data da Implantação da República, até porque a República é dada no 9.º e no 12.º ano, tem sido noticiada várias vezes nos meios de comunicação social, e, também, porque na introdução ao inquérito, dizemos que estamos a abordar “o tema do centenário da República”, ora por aqui se vê que a Implantação da República foi há 100 anos. Ora por tudo isto, como explicar que à pergunta “Em que data se deu a Implantação da República” tenhamos obtido respostas como: 1 de Dezembro de 1946, 4 Dezembro 1640 ou ainda, 25 de Abril?
Há aqui dois pontos a salientar: ou os alunos responderam ao inquérito sem qualquer atenção e escreveram a primeira data que lhes veio à ideia, ou, então, algo de grave se passa: há alguns alunos, a quem as datas dos principais acontecimentos da História de Portugal passam completamente ao lado.

•A maioria dos alunos está equivocada sobre a data em que foi aprovada a primeira Constituição Republicana: associam essa data ao ano da Implantação da República, 1910;

•A maioria dos alunos sabe que o primeiro Presidente não eleito da República foi Teófilo Braga assim como também sabem que o primeiro Presidente eleito após a Implantação da República, foi Manuel de Arriaga;

•A maioria dos alunos não sabem que durante o período da I República, exerceram funções executivas 45 governos;

Finalmente, a maioria dos alunos também não sabe que no período da I República, foram eleitos 8 presidentes.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"A Portuguesa"

Hino nacional
Com a Implantação da República a 5 de Outubro de 1910, os principais símbolos nacionais – a bandeira e o hino – foram alterados. Já aqui expusémos a bandeira republicana bem como uma possível interpretação do seu significado. Apresentámos agora, uma breve síntese daquilo que é o Hino de Portugal, “A Portuguesa”.
O hino português tem na sua origem o Ultimato de 11 de Janeiro de 1890 que os ingleses impuseram a Portugal, facto que indignou a Nação e exaltou os mais altos valores patrióticos. Não ficou imune a esta inflamação nacional Alfredo Keil, que logo quis compor uma marcha de protesto e exaltação dos valores e sentimentos pátrios. Para essa marcha escreveu depois Henrique Lopes de Mendonça os versos, surgindo depois o título da composição: A Portuguesa.
. O Hino não demorou muito, no entanto, a estar pronto, pois já em Fevereiro era conhecido popularmente, através da imprensa. "A Portuguesa" teve um impacto nacional enorme, acusando excelente receptividade da população, que se revia na letra e facilmente entoava a melodia. Daí que durante a sublevação militar de cariz republicano que deflagrou no Porto em 31 de Janeiro de 1891, a marcha dos amotinados foi precisamente "A Portuguesa". Com o advento da República em 5 de Outubro de 1910 "A Portuguesa" irrompe de novo na população, decretando-se mesmo logo em Novembro o seu respeito e homenagem pelos militares sempre que entoado. Mas só na sessão de 19 de Junho de 1911 da Assembleia Constituinte é que se proclamou "A Portuguesa" como Hino Nacional. A versão oficial só foi aprovada, porém, em 4 de Setembro de 1957, por iniciativa do ministro da Presidência Marcello Caetano.










I
Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

"A Portuguesa" (hino). In Diciopédia X [DVD-ROM]. Porto : Porto Editora, 2006. ISBN: 978-972-0-65262-1

Rindo dos Presidentes

Durante a República nem tudo foi sério. Apresentamos agora caricaturas de alguns presidentes:





Manuel de Arriaga (Horta, 8 de Julho de 1840- Lisboa, 5 de Março de 1917)


Presidente da República entre: 24 de Agosto de 1911 e 26 de Maio de 1915

Professor liceal, escritor e político, de seu nome completo Manuel José de Arriaga Brum da Silveira, licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, em 1865. Notabilizou-se como advogado na defesa de correligionários processados pelas suas ideias ou actividades, fez parte do Directório do Partido Republicano (1891), foi deputado em duas legislaturas ainda durante a Monarquia (1882 e 1892) e foi eleito para as Constituintes de 1911. Ainda naquele ano, em Agosto, com o apoio parlamentar dos partidários de António José de Almeida e Brito Camacho, tornar-se-ia o primeiro Presidente da República constitucionalmente eleito, com 71 anos. No entanto, a sua política conciliadora, baseada em propósitos de defesa da honra nacional e na concórdia de toda a família portuguesa, colidiu com as tendências golpistas sempre presentes na política do novo regime. Em 1915, a crise desencadeada pelo golpe de Pimenta de Castro, que envolveu a dissolução do Parlamento, levou-o a atitudes contraditórias com as leis da República. O Parlamento declarou-o fora da lei e Manuel de Arriaga demitiu-se, retirando-se da vida política.
A 16 de Setembro de 2004, os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional. Na cerimónia oficial estiveram presentes o Presidente da República Jorge Sampaio e o Presidente da Assembleia da República Mota Amaral, entre outras figuras importantes da política portuguesa.

Teófilo Braga (Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 1843 – Lisboa, 28 de Janeiro de 1924)


Presidente da República entre: 29 de Maio de 1911 e 5 de Outubro de 1911

Político português, de seu nome completo Joaquim Teófilo Fernandes Braga, é talvez a mais multifacetada figura da nossa Primeira República. Notável pela grande variedade de actividades e pela riqueza da sua prolífica obra (cerca de 360 títulos), fez a sua formação académica em Direito (doutorando-se em 1868), passou para o domínio da História da Literatura (chegando a catedrático em 1872, no Curso Superior de Letras), foi poeta e jornalista. A sua obra literária, apesar de algumas debilidades de forma e conteúdo que os críticos lhe apontam, constitui uma abordagem pioneira da História da Literatura, dos usos e costumes e das tradições orais de Portugal. Da sua fértil pena saíram ainda as primeiras edições críticas de obras clássicas da literatura portuguesa. Os seus interesses, porém, não se confinaram à literatura; abrangeram igualmente a filosofia. Também neste domínio desenvolveu uma acção determinante, como um dos introdutores e principal divulgador em Portugal do positivismo, que seria a filosofia orientadora por excelência do republicanismo. Fundador do Partido Republicano Português, cuja história igualmente redigiu, foi um dos principais intervenientes nas comemorações do tricentenário de Camões em 1880, importante expressão do nacionalismo republicano no plano cultural. Instaurada a República em 1910, sendo Presidente do Partido Republicano Português, foi nomeado primeiro Presidente do novo regime, vindo a exercer o mesmo cargo, agora por via constitucional, após a renúncia de Manuel de Arriaga em 1915, numa fase de crise aguda do regime.

Obras editadas pelo autor:

A Ondina do Lago
Alma Portuguesa
Antologia Portuguesa
As Modernas Ideias na Literatura Portuguesa
As Teocracias Literárias
Campo de Flores. Poesias Líricas Completas
Cancioneiro Popular
Cantos Populares do Arquipélago Açoriano
Contos Fantásticos
Contos Tradicionais Portugueses
Curso de História da Literatura Portuguesa
Floresta de vários Romances
Folhas Verdes. Versos dos Quinze Anos
História da Literatura Portuguesa. Introdução
História da Poesia Moderna em Portugal
História da Poesia Popular Portuguesa
História de Literatura Portuguesa
História do Romantismo em Portugal
Introdução e Teoria da História de Literatura Portuguesa
Manual da História da Literatura Portuguesa
Miragens Seculares
Parnaso Português Moderno
Poesia do Direito
Romanceiro Geral
Tempestades Sonoras
Teoria da História da Literatura Portuguesa
Torrentes. Últimos Versos
Visão dos Tempos

Bernardino Machado (Rio de Janeiro, 28 de Março de 1851 – Porto, 29 de Abril de 1944)


Presidente da República entre: 6 de Agosto de 1915 e 5 de Dezembro de 1917; 11 de Dezembro de 1925 e 31 de Maio de 1926

Político português, de seu nome completo Bernardino Luís Machado Guimarães. Veio para Portugal ainda criança. Licenciou-se em Ciências na Universidade de Coimbra, em 1875 e doutorou-se em 1875, tornando-se professor catedrático. Catedrático coimbrão ainda muito jovem. Com apenas 28 anos, inicia a sua actividade política como monárquico, sendo eleito deputado com pouco mais de trinta anos, depois Par do Reino e ministro das Obras Públicas em 1893. Iniciado na Maçonaria ainda na década de 80 do século XIX, introduz naquela organização a filosofia positivista. Desiludido com a política da Monarquia, adere ao Partido Republicano Português, de cujo Directório virá a fazer parte. Notabiliza-se na propaganda a favor da instauração do novo regime, mas a sua conhecida oposição ao emprego da violência armada para o derrube da Monarquia faz com que os seus correligionários o não pusessem ao corrente dos preparativos da insurreição. Contudo, por influência de Afonso Costa, vê-se nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório Republicano. Falhada uma primeira tentativa de alcançar a Presidência da República, virá a ser eleito mais tarde para aquele cargo (1915), depois de um mandato como chefe de Governo (1913). Em 1925 ascenderá novamente à chefia do Estado. A sua política vacilante em dois momentos particularmente graves e significativos (sidonismo e golpe de 28 de Maio de 1926) acarreta-lhe a perda de prestígio, que no entanto recupera quando, no exílio, se dedica novamente, com assiduidade e acutilância, à propaganda contra a Ditadura Militar instaurada em Portugal. Viria a falecer em 1944.

Sidónio Pais (Caminha, 1 de Maio de 1872 – Lisboa, 14 de Dezembro de 1918)


Presidente da República entre: 28 de Abril de 1918 e 14 de Dezembro de 1918


Militar e académico de formação científica, Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais, repartiu a sua actividade pela docência (regeu a cátedra de Matemática em Coimbra), pelo serviço militar, pela política e pela diplomacia. A sua carreira política apenas se iniciou após a implantação do regime republicano, durante o qual foi sucessivamente deputado e senador e sobraçou pastas ministeriais (Fomento e Finanças), após o que ingressou na carreira diplomática, como representante de Portugal em Berlim, quando já se avizinhava a Primeira Guerra Mundial. Regressando a Portugal, após a declaração do estado de guerra entre a Alemanha e Portugal, participou na conspiração que virá a instaurar a "República Nova", que, sob a sua direcção suprema, colocou no poder, no período de 1917-18, uma confederação de interesses composta por republicanos descontentes, monárquicos e clericais, e adversários da participação na guerra. Legitimou a sua presidência por meio de eleições, exerceu o poder com um misto de autoritarismo (em que alguns encontram uma espécie de "ensaio" do salazarismo) e de populismo. A sua morte, num atentado, em 1918, deixou o país numa situação de grande instabilidade, em que se chegou a temer a restauração da Monarquia.

Canto e Castro (Lisboa, 19 de Maio de 1862 – Lisboa, 14 de Março de 1934)


Presidente da República entre: 16 de Dezembro de 1918 e 5 de Outubro de 1919


Oficial da Marinha português, de seu nome completo João do Canto e Castro Silva Antunes, fez carreira nas colónias e em funções de comando, fez parte do governo de Sidónio Pais, na qualidade de ministro da Marinha, e acabou por ser eleito Presidente da República pelo Congresso após o assassinato de Sidónio. A eleição gerou forte controvérsia. A sua credibilidade ficou fortemente abalada, mas Canto e Castro acabou por contrariar as expectativas mais pessimistas ao garantir a efectivação de eleições legislativas em 1919 (nas quais venceu uma maioria democrática) e ao defender a República (apesar das suas profundas convicções monárquicas) contra as tentativas de restauração, registadas no mesmo ano (Monarquia do Norte, revolta de Monsanto). Em 1919 foi promovido a Almirante por distinção, a 25 de Outubro de 1919.

António José de Almeida (Vale da Vinha, Penacova, Coimbra, 1866 – Lisboa, 3 de Março de 1929)



Presidente da República entre: 5 de Outubro de 1919 e 5 de Outubro de 1923

António José de Almeida, formou-se em Medicina, exercendo clínica na Ilha de São Tomé, até 1904.
Extremamente popular pelos seus dotes oratórios, participou na preparação das revoltas fracassadas de 1891 e 1908 e da revolução triunfante de 1910, que instauraria a República. O seu combate contra o regime monárquico desenvolveu-se ora no Parlamento (foi eleito para as duas últimas legislaturas da Monarquia), ora na imprensa (dirigiu e fundou vários jornais e subscreveu artigos contundentes, como o "Bragança, o Último", contundente ataque ao monarca e ao regime). Instaurada a República, cabe-lhe em 1910 assumir a pasta do Interior do Governo Provisório Republicano, o que leva a grande desgaste da sua figura, pois tem de enfrentar graves problemas sociais. São tão profundas as divergências, pessoais e políticas, em relação a Afonso Costa e outros republicanos, que António José de Almeida protagoniza uma cisão no Partido Republicano, formando o seu próprio partido (Partido Republicano Evolucionista, 1912-1919), mais conservador. Acederá, no entanto, a integrar o Governo da União Sagrada (1916-1917), que chefiará, acumulando com a pasta das Colónias, no momento crucial da entrada na Primeira Guerra Mundial. Passado o interregno sidonista, em que é perseguido, vem a ser eleito Presidente da República em 1919. Nessa qualidade visita o Brasil, numa altura em que ali se registava uma forte corrente nativista que se exprimia por actos xenófobos anti-portugueses, que António José de Almeida contribui para minimizar, mercê do seu invulgar talento oratório. Foi, em toda a vigência da República parlamentar, o único presidente que completou o seu mandato, em anos caracterizados por uma grande crise social e política, que bem se espelha no facto de ter nomeado dezassete ministérios e de se terem registado numerosas alterações da ordem pública, a mais grave das quais seria a Noite Sangrenta (18-19 de Outubro de 1921), episódio cujas motivações nunca foram inteiramente esclarecidas, em que um grupo de marinheiros amotinados atravessa Lisboa deixando atrás de si um rasto de sangue, tendo sido assassinados, entre outros, o chefe do Governo António Granjo e o contra-almirante Machado Santos.

Manuel Teixeira Gomes (Portimão, 27 de Maio de 1860 – Bougie, Argélia, 18 de Outubro de 1941)



Presidente da República entre: 6 de Outubro de 1923 e 11 de Dezembro de 1925


Manuel Teixeira Gomes, foi um Cronista, dramaturgo, crítico de arte, ficcionista e político português. Depois de ter frequentado o Seminário de Coimbra, onde foi companheiro de José Relvas, matriculou-se na Faculdade de Medicina, não chegando, porém, a concluir o curso. Depois de uma vivência de boémia, entre Coimbra, Lisboa e Porto, durante a qual conviveu com algumas das figuras mais conhecidas da literatura do último quartel de Novecentos, como Sampaio Bruno, Teófilo Braga, Fialho de Almeida, António Patrício, Malheiro Dias e António Nobre, adquirindo uma cultura artística e literária rica e diversificada, regressou a Portimão para se dedicar ao comércio de exportação de frutos secos na empresa que o pai detinha, sendo, então, obrigado a efectuar múltiplas viagens ao estrangeiro, sobretudo pelo Norte de França, Países Baixos e Mediterrâneo.
A partir de 1895, estabeleceu novos contactos literários e ficou a conhecer, entre outros, Marcelino Mesquita e Gomes Leal. Entretanto, entusiasmado pelos seus amigos, publicou a sua primeira obra O Inventário de Junho, em 1899. Obrigado a permanecer em Portimão durante mais tempo, devido à avançada idade do pai, dedicou-se, por esta altura, à escrita, tendo publicado Cartas sem Moral Nenhuma e Agosto Azul, ambos os escritos em 1904, Sabrina Freire, em 1905, Desenhos e Anedotas de João de Deus, em 1907, e Gente Singular, em 1909.
Com a eclosão da revolução republicana, aceitou o cargo de ministro em Londres, encetando um papel interveniente na vida política externa portuguesa - temporariamente suspenso durante a ditadura de Sidónio Pais -, tendo sido responsável pela intervenção de Portugal na Primeira Guerra Mundial, e representou Portugal na Conferência de Versalhes e na Sociedade das Nações. Num período particularmente conturbado da vida política e social portuguesa, foi eleito, em 1923, Presidente da República, resignando em 1925. Com a instauração da Ditadura Militar de 1926, encetou um novo período de peregrinação pelo estrangeiro, assumido agora como exílio voluntário.
Retomou então a escrita, revendo e reeditando as suas primeiras obras e dando à estampa um novo ciclo de volumes de narrativa, memórias e impressões de viagem. Um dos pontos de abordagem da sua obra utilizados com mais recorrência é o de repertoriar continuidades e diferenças entre as obras do início do século com aquelas publicadas depois de quinze anos de silêncio. Como fio condutor entre ambos os momentos, encontra-se o recurso frequente a processos evocativos, já que no hiato entre a narração e o acontecimento evocado, joga-se o estranhamento necessário a um desvendar progressivo da acção ou situações insólitas, estratégia que confere à sua escrita características próximas do fantástico. Novelística que se compraz na subversão de lugares-comuns, que se assume como desafio ao sublime e ao romanesco, integrando, por consequência, o grotesco e a ironia como estratégias que permitem o distanciamento e repelir qualquer sentimentalismo, e a expressão inédita de um erotismo plenamente assumido, enquanto adesão incondicional e deslumbrada "à arte e à mulher" (cf. RODRIGUES, Urbano Tavares - Prefácio a Novelas Eróticas, 3.ª edição, Venda Nova, Bertrand, s/d, p. 8). Ao mesmo tempo radicalmente anti-romântica, pela forma como os impulsos idealistas das personagens são continuamente aviltados pelo confronto com a materialidade ou com o ridículo, e anti-naturalista e anticientifista, pela forma caricatural como questiona uma realidade cuja compreensão escapa ao racionalismo, a prosa de Manuel Teixeira Gomes recupera um esteticismo classicista, patente em descrições onde a frase longa, bem cadenciada, sem recusar, para maior propriedade da expressão, o uso de arcaísmos e neologismos, adquire, na evocação imaginária e sensual de lugares, mulheres, amigos que conhecera, uma beleza raras vezes atingida na literatura portuguesa.
Morreu em Outubro de 1941, num quarto de hotel da Argélia, país onde viveu os seus últimos dez anos. No entanto, nove anos mais tarde, os seus restos mortais seriam trasladados para Portimão, a pedido da família.

José Mendes Cabeçadas (Loulé, 1833 – Lisboa, 1965)



Presidente da República entre: 31 de Maio de 1926 e 17 de Junho de 1926

Oficial da Armada, participou na preparação e desencadeamento da insurreição de 5 de Outubro de 1910, que instaurou o regime republicano. Distinguiu-se particularmente, não só pelo grande fervor e impaciência nos momentos críticos em que o movimento parecia comprometido, como pela iniciativa corajosa ao assumir o comando do navio "Adamastor", colocando-o ao serviço da revolução. No ano seguinte, foi deputado às Constituintes, juntamente com outros jovens militares revolucionários. No entanto, viria a revoltar-se contra o regime que ajudara a implantar, por razões nem sempre muito claras, algumas aparentemente de carácter aventureiro e pessoal. Em 1926 participa nas manobras e conspirações políticas e militares que levam à instauração da Ditadura Militar. Nos primeiros dias deste novo regime, assume poderes ditatoriais, num governo em que se responsabiliza por todas as pastas, mas é prontamente afastado do poder pelos seus próprios correligionários liderados por Gomes da Costa, no que seria o primeiro choque significativo no seio do grupo político-militar vencedor.

Gomes da Costa (Lisboa, 14 de Janeiro de 1863 – Lisboa, 17 de Dezembro de 1929)



Presidente da República entre: 19 de Junho de 1926 e 9 de Julho de 1926


Militar português, Manuel de Oliveira Gomes da Costa, foi nas colónias que decorreu parte significativa da sua carreira militar, tendo vindo mais tarde a publicar obras de História militar fundamentadas quer no estudo do passado quer na sua experiência pessoal. Participou em operações militares primeiro na Índia, depois em Moçambique, neste último caso sob as ordens de Mouzinho de Albuquerque, de quem se afirmaria discípulo e admirador. Foi ainda naquela colónia que assumiu funções de carácter político-administrativo, durante o período de governo de Freire de Andrade. Implantada a República, continuou a sua carreira de militar colonial em postos de chefia em Angola e São Tomé e Príncipe. Após o desencadear do conflito mundial, em que Portugal se viu envolvido, regressou à metrópole e incorporou-se, como voluntário, no Corpo Expedicionário que combateu na frente europeia, tendo-lhe sido atribuído o comando da 1.a Divisão daquele Corpo. Nesta sua decisão de avançar para a frente de combate foi motivado por uma razão em que comungavam os republicanos e os seus adversários: a intenção de preservar a integridade do Império. Terminada a guerra, já com a patente de general a que fora promovido pelo seu comportamento exemplar na Flandres, envolveu-se em actividades políticas conspirativas contra a República, a que na realidade nunca aderira, dadas as suas convicções monárquicas. Associou-se a políticos de tendências diversas, contando-se entre eles desde adversários declarados do regime, como os Integralistas Lusitanos, a republicanos desiludidos, como Machado Santos, o herói da Rotunda, um dos símbolos da revolta vitoriosa do 5 de Outubro de 1910. Militar prestigiado e condecorado ao mais alto nível, a sua irrequietude política fê-lo entrar em choque com as autoridades, o que lhe valeu a prisão por mais de uma vez e uma espécie de exílio disfarçado (missão de inspecção às forças militares no Oriente, o que se traduziu no seu afastamento dos centros de decisão e dos ambientes conspirativos). Depois do seu regresso, a ligação a movimentos conspirativos não esmoreceu, tendo-se envolvido na preparação do movimento político e militar que iria traduzir-se no golpe de 28 de Maio de 1926 e na consequente instauração da Ditadura Militar. Vitorioso o golpe, os vencedores envolveram-se em disputas internas: Gomes da Costa dirigiu um golpe que derrubou Mendes Cabeçadas e foi por sua vez deposto num novo golpe encabeçado pelo General Sinel de Cordes, numa vertiginosa sucessão de conflitos. A 9 de Julho triunfou o golpe de Sinel de Cordes, e apenas dois dias depois, a 11, Gomes da Costa, que recusara a opção de permanecer como Presidente da República e renunciar ao poder executivo, partiu para o exílio nos Açores, onde recebeu a promoção a marechal (o governo restabeleceu aquele grau honorífico expressamente para o homenagear) ainda no mesmo ano. Ainda exerceu algumas funções de natureza política, mas com valor protocolar apenas. Quando faleceu, em Dezembro de 1929, encontrava-se totalmente desligado do poder.

Óscar Carmona (Lisboa, 24 de Novembro de 1869 – Lisboa, 18 de Abril de 1951)



Presidente da República entre: 16 de Novembro de 1926 e 18 de Abril de 1951


Militar oriundo da arma de Cavalaria, António Óscar Fragoso Carmona, de família de tradições militares, não possuiu uma folha de serviços marcada por actos notáveis. Nos primeiros tempos do regime republicano, participou nos trabalhos de reestruturação das instituições militares, após o que continua uma carreira relativamente apagada até que, em 1925, uma intentona falhada contra o regime termina em julgamento em tribunal militar. Assume aí as funções de acusador, o que lhe dá a oportunidade de apresentar um juízo pessimista sobre a situação política: asseverando que "a Pátria está doente", coloca-se inesperadamente ao lado dos conspiradores acusados contra o sistema, atitude que revela as suas tendências políticas mais íntimas e lhe confere pública notoriedade. No ano seguinte, será uma das figuras de proa da conspiração política e militar que desemboca no golpe de 28 de Maio. Começa aqui a sua verdadeira carreira política, que o conduz à oposição a Gomes da Costa num dos primeiros momentos de clivagem nas fileiras dos novos detentores do poder. Ascende, após a queda daquele general, à Presidência da República, na qual é confirmado pelo processo eleitoral de 1928, em que se apresenta como candidato único. A sua eleição significa, simultaneamente, um passo em frente na consolidação e institucionalização do novo regime. É no decorrer do período da Ditadura Militar que o seu poder político se acentua, na medida em que congrega à sua volta as diversas correntes de opinião no seio das forças militares apoiantes do regime e arbitra os conflitos patentes ou latentes entre os militares e os dirigentes civis, particularmente no decorrer da ascensão de António de Oliveira Salazar (durante algum tempo, Portugal vive mesmo sob um "presidencialismo bicéfalo", personificado por Carmona e Salazar). A evolução dos acontecimentos, particularmente a redução do peso político das Forças Armadas e consequentemente da sua capacidade de intervenção junto dos órgãos de decisão, acarreta o declínio da autoridade do próprio Marechal Carmona, que, apesar de continuar a ocupar a Presidência até ao seu falecimento, vê diminuir drasticamente a sua autoridade e influência perante o aumento do poder efectivo do Presidente do Conselho de Ministros, com o qual inclusivamente tem desencontros de opinião em momentos decisivos da evolução do Estado Novo.

F. H. Craveiro Lopes (Lisboa, 12 de Abril de 1894 – Lisboa, 2 de Setembro de 1964)



Presidente da República entre: 21 de Julho de 1951 e 9 de Agosto de 1958


Francisco Higino Craveiro Lopes, foi oficial da Força Aérea (entrou em 1918 para a aviação, quando a guerra ainda não havia terminado), prestara serviço militar no Corpo Expedicionário Português na Flandres durante o conflito e ocupara o importante cargo de Comandante-Geral da Legião Portuguesa na segunda metade da década de quarenta. Embora tivesse ocupado discretamente uma cadeira de deputado por algum tempo, não se encontrava vinculado a nenhuma das tendências que se manifestavam no seio das forças políticas de apoio ao Estado Novo quando o Marechal Óscar Carmona faleceu em 1951. Foi, por isso, com alguma surpresa que surgiu como candidato indigitado às eleições que tiveram de se realizar, inopinadamente, para a substituição do falecido Presidente. Candidato apoiado pela União Nacional, foi eleito sem surpresa nem dificuldades. Embora tivesse exercido, de modo geral, as suas funções de maneira discreta e não intervencionista exigida pelo facto de o seu cargo ser efectivamente de conteúdo protocolar e destituído de poder real de intervenção, algumas situações houve em que se não coibiu de tomar posição contra a política oficial definida pelo Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar. Assim, são conhecidas as suas reticências (se não mesmo oposição) à política colonial de Salazar e é nestas diferenças de opinião que se radica o seu apoio ao golpe de Estado frustrado do ministro da Defesa, General Botelho Moniz, que em Abril de 1961, mal a guerra estalara em Angola, procurara derrubar Salazar e assim abrir caminho a uma resolução política do conflito. Foram precisamente as divergências com Salazar que determinaram a sua substituição pelo Almirante Américo Thomaz, candidato oficial do regime, apoiado pela União Nacional, nas eleições presidenciais de 1958. Pouco tempo após o término do seu mandato, tornou-se Marechal da Força Aérea.

Américo Thomaz (Lisboa, 19 de Novembro de 1894 – Cascais, 18 de Setembro de 1987)


Presidente da República entre: 9 de Agosto de 1958 e 25 de Abril de 1974


Político português, Américo Deus Rodrigues Thomaz, concluiu o curso da Escola Naval a 30 de Dezembro de 1916.
Durante a I Guerra Mundial, serviu na escolta aos navios que demandavam a Inglaterra e o Norte de França. De 1919 a 1936 trabalhou na missão hiderográfica da costa portuguesa. Enquanto Presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante, desde 23 de Janeiro de 1940 a 6 de Setembro de 1944, sobraçou a pasta da Marinha de 6 de Setembro de 1944 a 15 de Maio de 1958, tendo remodelado a Marinha Mercante e a Escola Náutica e fundou a Escola de Marinheiros e de Mecânicos da Marinha Mercante.
A sua aparição como candidato à Presidência da República, era fruto das desavenças entre Salazar e Craveiro Lopes, o anterior Presidente, que se revelara pouco acomodatício nos últimos tempos do seu mandato. Américo Thomaz, gozando do apoio da máquina política da União Nacional e das próprias estruturas do poder de Estado, foi proclamado vencedor no pleito, em que teve de se defrontar com o General Humberto Delgado, cuja campanha dinâmica pusera inesperadamente em causa a estabilidade, se não mesmo a sobrevivência, do regime. O sobressalto causado por Delgado provocou no regime uma reacção de defesa, que consistiu na alteração do sistema eleitoral: se até aí os candidatos eram eleitos por sufrágio universal, passaram a ser eleitos por um colégio restrito, no qual as surpresas não se poderiam manifestar. Tal alteração permitiu que Américo Thomaz, último presidente do Estado Novo, tivesse sido reeleito para dois mandatos posteriores, sem oposição nem dificuldades, mantendo-se no cargo até ao golpe de 25 de Abril de 1974.
Enquanto Chefe de Estado, percorreu praticamente todo o território português. O longo e protocolar exercício da função presidencial viria a sofrer sobressaltos, não por acção das forças políticas adversas, mas pela inesperada doença incapacitante de Salazar. A evolução do estado de saúde do real dirigente do Estado colocou nas mãos de Américo Thomaz a espinhosa responsabilidade de lhe encontrar sucessor. Foi, efectivamente, sua a opção por Marcello Caetano, opção em que não obteve o apoio unânime das forças que apoiavam o regime. Demitido das suas funções em 25 de Abril de 1974, foi exilado para o Brasil, juntamente com outros altos dignitários do regime deposto, tendo-se ali mantido até que o General Ramalho Eanes autorizou o seu pacífico regresso a Portugal. Atingiu o posto de Contra-Almirante a 11 de Setembro de 1951, tendo, de 1980 a 1983, escrito “Últimas Décadas de Portugal”, em quatro volumes.

António de Spínola (Santo André, Estremoz, 11 de Abril de 1910 – Lisboa, 13 de Agosto de 1996)


Presidente da República entre : 15 de Maio de 1914 e 30 de Setembro de 1914


Militar de carreira português, António Sebastião Ribeiro de Spínola, enveredou na Escola do Exército e a 1 de Novembro de 1933, foi promovido a Alferes de cavalaria. Notabilizou-se no desporto hípico e durante anos dirigiu a “Revista de Cavalaria”. Oficial da arma de Cavalaria, consta na sua folha de serviço a participação, como voluntário, nas forças expedicionárias enviadas por Salazar para Angola nos primeiros dias da Guerra Colonial e o exercício do cargo de Governador da Guiné durante cerca de seis anos (1968-1973). Neste cargo, o seu largo prestígio teve origem numa política de respeito pela individualidade das etnias guineenses e à associação das autoridades tradicionais à administração, ao mesmo tempo que prosseguia a guerra por todos os meios ao seu dispor, que iam da diplomacia secreta (encontros com Senghor, Presidente do Senegal) a incursões armadas em territórios vizinhos (ataque de comandos a Conakri). Após o termo do seu mandato de governador e comandante-chefe, regressou a Portugal e foi nomeado Vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.
Foi no exercício deste cargo que entrou em choque com Marcello Caetano. O pretexto para a ruptura foi a publicação de um livro em que Spínola propunha soluções políticas e não militares para o termo da guerra, dentro de uma estrutura federalista que substituiria o Império. Demitido (juntamente com Francisco da Costa Gomes, que, na qualidade de Chefe do Estado-Maior, autorizara a publicação do livro) por Caetano, Spínola regressou a uma posição de grande destaque após o 25 de Abril de 1974, quando o Movimento das Forças Armadas (MFA), vitorioso, entregou o poder à Junta de Salvação Nacional. Spínola acumularia as funções de presidente da Junta e de presidente da República durante alguns meses. No entanto, rapidamente entraria em choque com as correntes mais radicais do Movimento, que o empurraram para a aceitação da independência das colónias, lhe anularam o projecto de concentração de poderes e lhe impuseram como primeiro-ministro um militar esquerdista, Vasco Gonçalves. Bloqueado, recorreu à mobilização de forças políticas da chamada "maioria silenciosa" temerosa da radicalização da revolução e da possível instauração de uma ditadura comunista em Portugal. A manifestação de apoio a Spínola (28 de Setembro de 1974) acabaria por sair frustrada pelas forças de esquerda, que por todo o país levantavam barricadas e impediram o acesso dos partidários do general a Lisboa e outros locais de concentração. Impotente perante os acontecimentos, Spínola renunciou ao cargo (30 de Setembro), sendo substituído por Costa Gomes, mas continuou a organizar forças e apoios contra o regime. Da conspiração que dirigiu ou estimulou sairia o golpe militar de 11 de Março de 1975, em que sofreu nova derrota, exilando-se primeiro em Espanha e depois no Brasil, de onde dirigiu uma organização clandestina (MDLP - Movimento Democrático de Libertação de Portugal) que se empenharia na luta contra o regime democrático, luta que durante o período denominado PREC se radicalizou cada vez mais. A derrota das forças esquerdistas no golpe fracassado de 25 de Novembro de 1975 tranquilizou Spínola e os seus apoiantes, levou à desmobilização do MDLP e criou condições políticas para o seu regresso a Portugal, sendo reintegrado nas Forças Armadas e mais tarde promovido ao posto de marechal (1981) durante o mandato de Ramalho Eanes. Apesar da idade avançada, não se desligou inteiramente da vida política, vindo a falecer no Verão de 1996, pouco depois de, publicamente, ter um inesperado gesto de reconciliação com o general Nino Vieira, presidente da República da Guiné-Bissau, seu antigo adversário militar na Guerra Colonial.

Francisco da Costa Gomes (Chaves, 30 de Junho de 1914 – Lisboa, 31 de Julho de 2001)


Presidente da República entre: 30 de Setembro de 1974 e 27 de Junho de 1976

Militar e ex-presidente da República Portuguesa, Francisco da Costa Gomes, lienciou-se em Matemática na universidade do Porto em 1944. Em 1948 ingressou no corpo do Estado-Maior, tendo prestados serviço em diversos organismos da Nato. Em 1974, após o triunfo da revolução de Abril, aparece como membro da Junta de Salvação Nacional, a quem o poder foi entregue pelos militares organizadores do golpe.
Militar com longa carreira, fora secretário de Estado num governo de Salazar (1958-1961), tendo sido destituído devido à sua participação no golpe de Estado falhado do general Botelho Moniz. A sua carreira militar decorrera em grande parte nas colónias em guerra (Moçambique e Angola), em funções de comando e direcção, após o que assume o cargo de chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, em 1973. É no exercício destas funções que autoriza a publicação do livro em que o general António de Spínola defende a opção política para pôr termo à guerra, circunstância que acarreta a demissão de ambos.
Quando, em 18 de Setembro de 1974, Spínola tenta um golpe de força com a finalidade de impedir a radicalização da revolução e se vê forçado a abandonar os cargos que detinha, Costa Gomes assume a Presidência da República. O período que se segue será marcado pelo entrecruzar de linhas políticas antagónicas, que colocam o país, nalguns momentos mais delicados, à beira da guerra civil. Costa Gomes realiza equilíbrios sucessivos entre as forças em conflito, particularmente entre o golpe spinolista de 11 de Março de 1975 e o golpe de 25 de Novembro, em que as forças esquerdistas são arredadas do poder, tendo muito provavelmente a sua mediação e negociação constantes impedido o estalar do conflito.
Será durante o seu mandato (1974-1976) que se concluirá o processo de independência das colónias e será aprovada a Constituição da República, após o que se procede a eleições livres, que levam à Presidência o general António Ramalho Eanes. Costa Gomes passará à reserva e virá a ser promovido a marechal em 1981, juntamente com Spínola.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

António Ramalho Eanes (n. Alcains, Castelo Branco, 25 de Janeiro de 1935)



Presidente da República entre : 14 de Julho de 1976 e 9 de Março de 1986

Militar do Exército português, António dos Santos Ramalho Eanes, foi oficial da arma de Infantaria, com várias comissões de serviço nas guerras de África, encontrava-se em Angola no momento em que eclodiu o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Não tendo naquele momento qualquer posição proeminente no Movimento das Forças Armadas (MFA), não era no entanto um desconhecido, já que tivera posição activa e de destaque apenas um ano antes, ao repudiar a realização de um Congresso dos Combatentes organizado por militares apoiantes da continuação da guerra a todo o custo.
Após a vitória da Revolução, as funções que é chamado a desempenhar são de âmbito civil: primeiro director de programas e depois presidente da Radiotelevisão Portuguesa. Acusado de colaboração no golpe spinolista frustrado de 11 de Março, é alvo de um inquérito por ele próprio exigido, e ilibado. Discreto, a opinião pública ignora-o praticamente até ao dia em que uma sucessão de golpe e contra-golpe militares o colocam em grande evidência: Eanes surge como o organizador da resistência ao golpe das forças de esquerda e ganha instantânea popularidade por esse motivo.
A sua vitória nesse confronto justifica a sua nomeação para o posto de Chefe de Estado-Maior do Exército, o que lhe permite intervir decisivamente na reorganização das forças militares, que regressam aos quartéis e abandonam a política, e na redacção e aprovação da Lei Constitucional das Forças Armadas, que institucionaliza a despolitização das mesmas. É armado com o prestígio conquistado que concorre às eleições presidenciais, sendo eleito para dois mandatos sucessivos, por maiorias amplas (61% no primeiro mandato e 56% no segundo).
Os dez anos da sua presidência, de 1976 a 1986, são, apesar da consolidação institucional da Democracia representativa, anos de instabilidade política acentuada - Eanes nomeará seis Governos, experimentando diversas combinações, de acordo com resultados eleitorais e pleitos parlamentares (governo monopartidário e coligações), tendo mesmo recorrido a governos da sua própria responsabilidade, sem êxito duradouro. Foram notórias as suas dificuldades de relacionamento pessoal e político com diversos políticos e mesmo com chefes de Governo, particularmente com Mário Soares. Ao aproximar-se o final do seu segundo mandato, a desilusão com a classe política leva-o a apadrinhar a constituição de um novo partido (Partido Renovador Democrático - PRD), que obteve resultados surpreendentemente elevados no primeiro escrutínio a que se submeteu, mas que viria também ele a decair e a dissolver-se.
Eanes não se afastaria inteiramente da vida política activa, tendo mesmo chegado a ponderar a possibilidade de se apresentar a nova candidatura presidencial em 1995 mas desistindo de o fazer por considerar que a situação que se vivia não lhe deixava espaço político suficiente para afirmar um projecto autónomo.

Mário Soares (n. Lisboa, 7 de Dezembro de 1924)



Presidente da República entre: 10 de Março de 1986 e 9 de Março de 1996


Político português, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, foi estudante na Faculdade de Letras de Lisboa desde 1942, tendo-se licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, em 1951 e em Direito, em 1975.
Oriundo de uma família com tradições políticas republicanas liberais, participou activamente, desde a juventude, em actividades políticas contra o Estado Novo, o que lhe custou a passagem pelas prisões da polícia política e o exílio - primeiro em S. Tomé e depois em França, onde se encontrava aquando o 25 de Abril de 1974. Advogado, defendeu em tribunais plenários numerosos opositores do regime, tendo-se destacado como representante da família Delgado nas investigações sobre as circunstâncias e responsabilidades da morte do "General sem Medo". Oposicionista declarado, apresentou-se como candidato em actos eleitorais consentidos pelo regime, nunca sendo, no entanto, eleito.
Dirigente da Acção Socialista Portuguesa, é um dos fundadores do Partido Socialista (1973), de que foi o primeiro secretário-geral. Após o levantamento dos capitães em 1974, regressou prontamente a Portugal e ocupou a pasta dos Negócios Estrangeiros, passando a ser responsável pelo estabelecimento de relações diplomáticas com diversos países do mundo e pelas negociações que levariam à independência das colónias portuguesas. No plano da política interna, destaca-se principalmente pela oposição à influência política e social de comunistas e partidos de extrema-esquerda, combatendo, não só o peso daqueles dentro das instituições militares e no aparelho de Estado, mas também a proposta de unicidade sindical.
Foi primeiro-ministro de três governos constitucionais, assumindo o poder sempre em situações de grande gravidade (instabilidade resultante do PREC, crise financeira e outras), governando, ora com o apoio exclusivo do seu partido ora em coligação, consoante a relação de forças estabelecida no Parlamento. Foi o segundo presidente da República eleito democraticamente após o restabelecimento da democracia, cumprindo dois mandatos sucessivos entre 1986 e 1996, durante os quais se empenhou repetidamente, quer na dinamização das relações externas, quer na auscultação das aspirações e reclamações populares, através de "presidências abertas" que o levaram a percorrer praticamente todo o território nacional.
Homem controverso, as suas relações com correligionários e com outros políticos destacados (Francisco Sá Carneiro, António Ramalho Eanes, Salgado Zenha, Aníbal Cavaco Silva) foi por vezes tempestuosa ou, pelo menos, difícil; no entanto, conseguiu conservar grande capital de simpatia popular até ao fim do seu segundo mandato. Aquando da sua primeira candidatura presidencial, renunciou à filiação partidária e, contrariamente a algumas expectativas, quando saiu de Belém não regressou às fileiras do partido em cuja fundação teve significativo papel. No seu discurso de despedida ao povo português, deixou claramente expresso o desejo de se afastar definitivamente da política ("política nunca mais") e de se dedicar a outras actividades, particularmente à escrita.
Em 1998 recebeu um convite da ONU, para chefiar uma missão de informação à Argélia, reunindo várias personalidades escolhidas por Kofi Annan. O objectivo desta missão foi observar a situação vivida neste país através do contacto com organizações políticas, representantes de jornais e visitas a vários locais. Enquanto Presidente da República reuniu em livros as dez intervenções, onde relata os principais discursos de 1987 até 1986. Para além das obras que publicou antes do 25 de Abril, Mário Soares editou ainda Resposta Socialista para o Mundo em Crise (1983), Persistir (1984), A Árvore e a Floresta (1985). Recentemente lançou o livro Incursões Literárias (2003). Em 1991, ano em que foi reeleito Presidente da República, nasceu a Fundação Mário Soares, da qual se tornou presidente. Esta Fundação tem como objectivos patrocinar projectos de investigação e publicação de estudos bem como a formação cívica e política. Os debates e as conferências de divulgação cultural, em especial dirigidas à juventude e aos trabalhadores imigrantes em Portugal, nomeadamente dos países africanos lusófonos, do Brasil, Macau e Timor-Leste são também o propósito da Fundação.
Contrariamente à sua decisão de não voltar à política quando terminou o seu mandato como Presidente da República em 1996, Mário Soares decidiu candidatar-se novamente à presidência da República em 2005, para as eleições a realizar no início do ano seguinte, competindo com Aníbal Cavaco Silva, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira. O pretexto apresentado para a sua candidatura relacionava-se com a crise que se instalou no país e a sua intenção de poder fazer algo para melhorar a situação. Nas eleições realizadas a 22 de Janeiro não saiu vencedor, tendo perdido para Aníbal Cavaco Silva, que ganhou com a maioria absoluta de 50,59% dos votos. Mário Soares ficou em terceiro lugar na percentagem de votos, com 14,34%, e em segundo lugar ficou Manuel Alegre com 20,72%.

Jorge Sampaio (n. Lisboa, 18 de Setembro de 1939)



Presidente da República entre : 9 de Março de 1996 e 9 de Março de 2006


Político português, de seu nome completo Jorge Fernando Branco de Sampaio, nasceu a 18 de Setembro de 1939, em Lisboa. Iniciou a sua carreira política ainda como estudante da Faculdade de Direito de Lisboa (onde se licenciou em 1961) quando, em 1962 (enquanto Secretário Geral da Reunião Inter-Associações), o governo de Salazar proibiu a comemoração do Dia do Estudante, desencadeando uma crise marcada pela greve estudantil ("luto académico"), reprimida por vezes com brutalidade. Terminado o curso, dedicou-se à advocacia, participando, como muitos outros advogados oposicionistas, em julgamentos nos Tribunais Plenários, como defensor de oposicionistas presos (por exemplo, os implicados no assalto ao quartel de Beja desencadeado por partidários de Humberto Delgado). Candidatando-se a deputado em 1969, não foi eleito, como aconteceu a todos os oposicionistas. Após o 25 de Abril de 1974, integrou-se em movimentos de esquerda próximos do Partido Socialista (Movimento de Esquerda Socialista e Grupo de Intervenção Socialista), acabando por aderir ao Partido Socialista, do qual foi mais tarde secretário-geral. Como militante socialista, candidatou-se e foi eleito por três vezes para o Parlamento, tendo cumprido um biénio como presidente do Grupo Parlamentar do seu partido. Se a sua experiência governativa é curta (Secretário de Estado em 1975), o mesmo já não se pode dizer da sua permanência à frente da edilidade lisboeta, pois nesta assumiu dois mandatos sucessivos, o último dos quais interrompido para Sampaio se candidatar à presidência da República em 1996. Beneficiando de um apoio vasto de figuras da política e da cultura, e beneficiando também da solidariedade institucional do PS, de que continua a ser militante, venceu (com 53,8% dos votos) os seus opositores Aníbal Cavaco Silva e Jerónimo de Sousa, transformando-se no terceiro presidente eleito depois da restauração da Democracia. Recandidatou-se ao lugar em 2001 e venceu as eleições, conquistando 55,8% dos votos.
Em 2004, foi galardoado com o prémio Carlos V, atribuído pela Academia Europeia de Yuste e entregue pelo rei Juan Carlos de Espanha, pelo seu empenho no processo de unificação da Europa e pelo seu contributo para a divulgação e enaltecimento da cultura, história e ciência europeias.
Nas eleições presidenciais ocorridas em Janeiro de 2006, Cavaco Silva foi o candidato eleito para substituir Jorge Sampaio na presidência da República.

Aníbal Cavaco Silva (n. Boliqueime, Loulé, 15 de Julho de 1939)


Presidente da República entre: 22 de Janeiro de 2005 - . . .

Economista, professor universitário e político português, Aníbal António Cavaco Silva nasceu em 1939, em Boliqueime. Licenciou-se em 1964 e doutorou-se em 1973, na Universidade de York, em Inglaterra. Foi professor de diversas instituições de ensino superior e dirigiu, a partir de 1977, o Gabinete de Estudos do Banco de Portugal.
Tornando-se militante do Partido Social Democrata (PSD) após a revolução do 25 de Abril de 1974, fez parte do VI Governo Constitucional, em 1980, constituído sob a chefia de Francisco Sá Carneiro. Ocupou então a pasta da Economia e Finanças, mas saiu do Governo em virtude de divergências políticas.
Tendo entretanto desempenhado diversos cargos no partido, em 1984 foi eleito presidente do PSD, no XII Congresso Nacional, realizado na Figueira da Foz. Entrou em ruptura com o Partido Socialista (PS), com o qual o PSD estava coligado no Governo do chamado Bloco Central, e passou, em 1985, a chefiar um Executivo minoritário. Com a realização de novas eleições legislativas em 1987, o PSD alcançou a maioria absoluta no Parlamento, que renovaria ainda quatro anos depois. Desta forma, Cavaco Silva liderou tanto o XI como o XII Governos Constitucionais.
A sua governação ficou marcada por uma política de desenvolvimento de infra-estruturas, por tensões com o presidente da República, Mário Soares, e por uma atitude de entusiasmo perante o projecto da União Europeia. Neste âmbito, pode referir-se que foi Cavaco Silva o primeiro-ministro português que assinou o Tratado de Maastricht.
Em 1995 decidiu não se recandidatar à liderança do PSD, vindo a suceder-lhe no cargo Fernando Nogueira. Na chefia do Governo sucedeu-lhe o líder socialista António Guterres. No ano seguinte apresentou a sua candidatura à Presidência da República, mas foi derrotado por Jorge Sampaio. Desde aí, manteve-se afastado da vida política activa, continuando a sua actividade de docente no Instituto Superior de Economia, até que, em 2005, decidiu regressar à política candidatando-se novamente à Presidência da República. Concorreu juntamente com mais cinco candidatos: Mário Soares, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira. Venceu as eleições realizadas a 22 de Janeiro de 2006 com a maioria absoluta de 50,59% dos votos, tornando-se o novo Presidente da República, em substituição de Jorge Sampaio.
É autor de vários livros sobre finanças e economia como Crónicas de Uma Crise Anunciada, União Monetária Europeia. Funcionamento e Implicações e Portugal e a Moeda Única. Mais tarde publica a sua autobiografia intitulada Aníbal Cavaco Silva. Autobiografia I (2002) e Aníbal Cavaco Silva. Autobiografia II (2004). Cavaco Silva é fundador da Global Leadership Foundation que nasceu em 2004 liderada por ex-governantes com o objectivo de aconselhar os actuais líderes políticos nas questões relacionadas principalmente com os países em desenvolvimento. Os presidentes honorários da Fundação são os ex-presidentes da República Nelson Mandela da África do Sul, Lech Walesa da Polónia e George Bush dos Estados Unidos da América.

BIBLIOGRAFIA

Diciopédia X [DVD-ROM]. Porto : Porto Editora, 2006. ISBN: 978-972-0-65262-1

OLIVEIRA, Leonel, “Quem é quem – portugueses célebres”. Editora Círculo de Leitores

O ideário republicano de Antero de Quental

O comportamento necessário da liberdade, que a faz viver e frutificar, é a República.

A República é :


no Estado, liberdade ;


nas conciências, moralidade ;


na indústria, produção ;


no trabalho, segurança ;


na Nação, força e independência ;

Para todos, riqueza ; para todos igualdade ; para todos luz ;




REGO, Raul "História da República", volume I

As Concorrentes


Aquando da Implantação da República, houve um concurso a nível nacional, por forma a serem criados projectos para a futura bandeira da «República Portuguesa». Apresentamos agora, alguns desses projectos bem como os seus autores:





Eis a vencedora!





A bandeira tem um significado republicano e nacionalista. Fica aqui uma explicação plausível para o significado das suas cores bem como dos símbolos que a compõem:

Verde – a cor da esperança; está ligada à revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891;

Vermelho – é a cor combativa, quente, viril por excelência; é a cor da conquista e do riso; uma cor cantante, ardente e alegre; lembra o sangue e incita à vitória.

Esfera armilar – representa o Império Colonial Português e as descobertas feitas por Portugal.

Escudo de armas português (que se manteve tal como era na monarquia), sobreposto a uma esfera armilar:

- Cinco quinas: alusão às cinco chagas de Cristo.

- Besantes: cinco besnates* em cinco quinas (25 besantes** ao todo); estes fazem referência aos 30 dinheiros pelos quais Judas traiu Jesus Cristo. Segundo a lenda, antes da Batalha de Ourique (26 de Julho de 1139), D. Afonso Henriques rezava pela protecção dos portugueses quando teve uma visão de Jesus na cruz. D. Afonso Henriques ganhou a batalha e, em sinal de gratidão, incorporou o estigma na bandeira de seu pai, que era uma cruz azul em campo branco.

Sete castelos: tradicionalmente, representam as vitórias dos portugueses sobre os seus inimigos e simbolizam também o Reino do Algarve.


"Aqui pinta no branco escudo ufano,
Que agora esta victoria certifica,
Cinco escudos azues esclarecidos
Em signal destes cinco Reis vencidos"

Luis de Camões

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*Besante – nome dado a cada ponto branco incorporado nas cinco quinas da bandeira.

** Para dar a soma de 30 (numero de dinheiros pelos quais Judas traiu Jesus Cristo) os besantes da quina do meio devem ser contados duas vezes.